Senta aqui pertinho de mim, deixa eu te olhar de novo, deixa eu descobrir um cílio perdido no meio do seu rosto, deixa meu silêncio conversar com o seu.
Eu sei, faz tempo e faz nenhum tempo que eu congelei suas
lembranças dentro de mim. Pouca coisa mudou desde que decidimos ir embora... acho
que emagreci aqueles 3 kilos que precisava, mudei o corte do cabelo também. O
Max continua roendo meus chinelos feito doido, continuo dormindo tarde e meu
livro de poemas ainda está parado desde aquela crise.
Mas por favor,não tenha pressa... a gente não precisa mais
seguir o ponteiro do relógio, estamos em casa! Eu só preciso olhar pra você de
novo, eu só preciso sentir você aqui com aquele jeito de menino perdido que
encontra conforto nas minhas palavras engasgadas.
Fiz chá de erva-doce
pra gente, comprei queijo e um pacote de pão de mel da Panco (espero que você ainda goste).Depois disso eu revi sua mensagem vinte vezes antes de me convencer de
que era mesmo você, de que seu número ainda era o mesmo. No fundo eu sempre
soube que você voltaria até aqui, no início de tudo. Me lembro de todas as
vezes que você me disse que queria viver aqui pra sempre, a casa do tamanho
ideal pra mais um labrador e quantas crianças quiséssemos ter. Ficar aqui
sozinha foi uma tortura no começo mas depois eu comecei a considerar esse lugar
como meu refúgio. Também desejei parti-lo no meio pra que você pudesse ser tão
feliz quanto os planos que fizemos aqui nessa varanda. Tudo me lembrou você,
desde o quadro dos girassóis que você insistiu que não combinaria com a
decoração até o desenho torto que
fizemos no tronco do carvalho.
As vezes eu gosto de ficar aqui sentada de frente pras
montanhas enquanto ouço Beatles. Me conte como foi o seu dia, me fale de você,
aliás... não precisa! eu posso ouvir o seu silêncio me dizer que nada mais
importa agora. Eu posso ouvir seu coração bater mais rápido, suas mãos suarem e
sua postura desajeitada e desconfortante me dizer que sentiu minha falta. Eu
também senti, senti mais do que qualquer coisa que eu possa dizer nesse
momento. Deixa minhas mãos tocarem as suas, há quanto tempo não as tenho junto
das minhas, há quanto tempo não as seguro! não sabe quanto senti saudade da
segurança que elas me passavam quando a gente caminhava pela rua... Minhas mãos
são tão pequenas perto das suas!
Ei, venha comigo até o lago, venha, eu vou conduzir você,
deixe eu segurar sua mão como você fazia com a minha. Feche os olhos e deixe
seus pés acompanharem os meus, escute o som!
Ainda bem que estou de casaco, o fim de tarde se aproxima e eu
posso sentir o vento gelado rodear a nossa tão sonhada casinha branca.
Você sabe que nunca fui boa de dançar mas fique a vontade se
quiser me conduzir. Sinto a grama molhada no dorso dos meus pés calçados pelas
sapatilhas vermelhas. Lembra delas? Oh não, vamos devagar, senão eu piso no seu
pé.
Mas se eu apertá-lo forte não me largue mais! Me envolva no
seu abraço tal qual o dia da chuva tempestuosa
que nos atingiu naquele comecinho de noite. Você me disse pra eu não ter medo e
me envolveu com seu braço tal qual está fazendo agora. Posso sentir a umidade
das suas lágrimas descendo sobre meu cabelo, você ainda não percebeu mas estou
fazendo o mesmo agora. Não precisa dizer nada, as vezes a gente nem precisa
mesmo das palavras, apenas ouça a música, a música que vem de dentro do
coração, ouça aquela que a gente gosta, a nossa preferida... deixe o amor nos
mostrar que não precisamos de mais nada. Deixe o amor nos levar de volta pra
casa...
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